domingo, 17 de maio de 2020

Moody ghoul in the house

Não falta muito agora para completar três meses que toda essa loucura mudou grande parte da minha rotina. No começo até que foi fácil me adaptar, afinal de contas, não posso negar que precisava de um descanso ao menos físico da rotina de trabalho. Engraçado tudo o que se nota quando você "olha fora do caixão", minha vida estava totalmente no piloto automático, num vórtex de cansaço, reclamação e frustração. A pior parte é perceber que mesmo com uma rotina diferente, esse vórtex achou um jeito de rastejar pelos cantos mais sutis da minha mente e aos poucos retomou seu controle maléfico. Foram poucas a semanas que consegui manter um ritmo de vida saudável, física e mentalmente.


Essa semana tive a oportunidade de ler um texto de uma psicóloga explicando o efeito da quarentena sobre as pessoas e fiquei muito surpresa em me enxergar em tudo aquilo. A falta de ânimo, as alterações de humor, o apetite exacerbado, a nostalgia, a fadiga e sono constantes, o sentir-se doente mesmo fisicamente saudável e por fim, a morte do prazer em tudo o que antes proporcionava êxtase. Por um lado foi reconfortante saber que nem tudo que eu penso estar quebrado na caixa de pandora que chamo de cabeça, o está em realidade por culpa da minha pré-disposição a não funcionar direito. Às vezes são apenas nossos mecanismos misteriosos agindo, a despeito de qualquer vontade consciente.


De qualquer forma, tem sido uma guerra interna entre a vontade de ficar no sofá e o ímpeto cada vez mais fraco de cumprir minhas tarefas. Confesso que meu ninho tem ganhado em disparada. Será que estamos fadados a sucumbir ao nosso próprio organismo? As pessoas que conseguem se superar realmente devem esse mérito apenas a sua força de vontade ou elas possuem alguma pré-disposição que lhes permite vencer? Em que posição nós, meros mortais auto sabotadores devemos nos colocar? Até que ponto devemos respeitar nossas limitações e a partir de que ponto vira comodismo? Eu ainda estou tentando descobrir como funciona para mim.

Enquanto isso, eu sigo na montanha russa quarentenesca, desejando mais do que nunca que tudo isso se acabe. Nunca senti tanta falta da minha vida noturna e da companhia dos poucos que consigo chamar de queridos. Nunca antes, na minha fase atual de vida, as coisas haviam sido vistas sob um espectro de cores tão cinza. Um cinza nada reconfortante.